Para criar uma nova quimera não basta a vontade
se a antiga veio dum lameiro, areada,
forrada de imperfeição.
Não basta soletrar cortejos de ofertas,
reinventar o orvalho
submerso no flagelo da poeira.
Tudo se abastece na sombra da eclipse.
Nada é eternidade.
Infinitos são os ecos dos destinos
e estes são efémeros.
Existem olhos com teias de cotão
que doaram a melodia ao bosque da cegueira,
que perderam o verbo e a razão
e olham através da cicatriz.
Não basta a vontade
para colher um fruto na crista da árvore.
Convém desembrulhar os olhos e despertar o verbo
Theófilo de Amarante