Quem és tu!
Que chamas a dor,
que suportas a infâmia.
Quem és?
Janela negra.
Quem és, irmão.
Que te escondes dos vampiros,
vivendo no centro do luto.
Cá fora existem ramos de explosão.
Gritam mãos, que chamam a pólvora.
Cavalos relincham por ti,
avivando o hino da liberdade.
Há vida no campo da batalha.
Entre os destroços, há cenas de destemor.
Hoje apanhei mortos que dedilhavam terços
e não soçobravam antes do último perdão.
Enterrei terços e almas,
sem lágrimas.
Não tenho tempo para chorar.
Olhei os vivos que combatiam,
Com anexos de sangue na boca.
Vi crianças atónitas cantar hinos à mãe morta;
e corvos que festejavam o seu nome
num banquete ímpio,
arrastando ossos para a montanha.
E voltavam antes do final.
Disputando a última pele que ainda latia
Olhei os vivos que combatiam,
com os queixos, os cotos e o coração aberto.
Olhei ao redor e não te vi!
Surpreso olhei o céu para seguir o teu enterro.
Nada, nada vi!
Quem és,
que chamas a dor.
Olhas a quebra da trela
como um facto natural?
Vendo os outros murchar, acorrentados.
Quem és,
morto sem funeral?
Theófilo de Amarante