Caminhei indistinto na procura da fórmula
da orientação - a rosa-dos-ventos.
“Da nascente já vinha.
Não queria rumar a poente.
Era o norte ou
o sul que me chamavam.
Ou uma quinta direcção.”
Parei em alguma parte, num lado inadequado.
Sedento, faminto, mal lavado.
Entre o sol setentrião e a chuva do suão.
Um campo coberto de inanimados com vapores de defeitos
à luz duma lua cheia embalsamada.
Ambíguo, olhei a atmosfera assustada
quase expirando num pratinho arcaico
que expelia defumação.
E nem dei conta de mim.
No centro, centro dum pomar
uma figura cadavérica pendurada na árvore do saber
detém-me com voz de fruto sábio.
Anda ver... anda ver.
Encontrei os meus troncos ascendentes num enfeitiçado suposto
construindo castelos de neve num chão sem alicerces
com cancelas adiadas e janelas abotoadas.
Muros de cal azulada e pátios de equinócio, ouvindo o epinício da mudez
entre portas com colunas ósseas
e almofadas que espelhavam saudade
na acrópole de gente de outrora.
A solução do infinito...
disse-me o sábio macaco com a cabeça procurando o chão
rindo da minha falta de rumo.
Olha o quarto singelo que te proponho.
Erguido num pilar de vento condensado.
Do norte vinha o cheiro do incenso.
Do sul uma luz suspensa num vinhádego
pingava fios gémeos dum néctar de razão.
Um anjo de quatro asas com voo de abelha-macho
presenteava numa folha amarela
sem vacina, um copo de amamento
e um contracto de imortalidade.
Desconfiei e voltei com os quatro pares de sapatos.
A minha rosa-dos-ventos.
Théofilo de Amarante