Antinomias...
Na negridão do mar
desliza uma caravela cega, que
parece ir ao encontro dum clarão que não vislumbra.
Não há horizonte, entre a ardósia soberba do oceano
e o desígnio.
Que faz a nau, longe da terra mãe cruzando um tema sem margens,
com panos de vento, que nada murmuram?
O vigia sente a náusea do imobilismo, olhando o tecido nos mastros.
Não há causa. Só mudez.
Até a cruz estampada se escapuliu na austeridade do céu inerte, que cola na água sem brandão.
A nau é uma estatueta pregada no liquido chão, pendurada no tecto da cor do oceano.
Que lhe é irmão.
É Páscoa em qualquer lugar,
chocalham ovos de ouro nas mãos dum paladino
na terra firme.
É um rei que manda nos mares.
Um iluminado que semeia ínfimas pepitas de margaridas campestres na fibra de capitães.
Não há hosanas. Nem zumbidos de comunhão.
A marinhagem perdeu o hino!
A nau definha-se na combustão sem tempo, até encontrar o alicerce do oceano.
É Páscoa em qualquer lugar.
O rei almirante endoida-se.
Contando o tesouro que o mar colheu.
Theófilo de Amarante