Letras et cetera - Revista Digital

Pensaduras

Eu e tu
o cão e o grilo...

Vivas são as recordações
dum tempo sem insurreições.
Quando o cão ladrava e a avó mandava
no galinheiro.
O galo calava.

Infeliz era o padeiro...
que sempre partia sem pão e sem dinheiro.
No tempo de conversa fiada.

Tu e eu. O grilo e o cão
ninguém dizia sim.
Ninguém dizia não.
Não eras tu
sem mim. E eu, que seria!
Talvez o teu serão.

Naquele tempo...
Entre o cão e o grilo
- a vaca que mugia
não pastava -
não havia comunhão.

Havia.
Eu e tu
na tulha da tia.
- Deslinda que era feia -

Que entre o café e a meia
nota e enfeixa a dor da vida
com uma extinta flor de margarida
entre os cabelos untados de azeite.

Para seu deleite!
um piolho que nela passeava
com os dedos curvos, achava
na faixa inculta.
Já sem recordações.

Eu e tu
- O grilo morrera
nem um amém!
ninguém soubera -
E o cão
que não fugira.

Era tempo de futur’ações.

Theófilo de Amarante