Letras et cetera - Revista Digital

As funções do menestrel

O poeta é como o mineiro
que extrai do incógnito vocabulário do seu saber
uma palavra fio.
E como o tecelão novela e enovela
um convénio consigo mesmo.
Até à glória de artesão.

É um cantador subentendido
que soletra virgulas e pontos.
Com a pluma polifónica
rege o papel
como o eros criança modela a flauta.

O poeta é o tribuno
aquele assombroso e surpreendente
mestre da utopia
que arranca do estômago um disserto sinfónico.

E como o pungente artífice nas cordas duma guitarra
provoca lágrimas estimula regozijos
arrebata a alma do mais rijo pragmático
cravando-lhe versos na mente.
De clemência ou gritos de revolta.

O poeta nunca expira
apenas muda de pluma.

Theófilo de Amarante ( Fernando Oliveira )